Um outro olhar

Quando no inicio deste semestre eu comecei a ter aulas de ética, uma das minhas professoras fez uma sitação de Marcel Proust: "A Verdadeira Viagem não consiste na descoberta de novos territórios, mas sim em aprender a ver com novos olhos."

Se procurarem na internet vão encontrar esta citação com diferentes variações, eu transcrevi-a para aqui da forma como ela me foi passada.

Estava a ver à pouco um episódio da série "Boston Legal". Esse episódio era passado em Nova Orleães e uma das personagens dizia que fechava os olhos e nem sequer conseguia imaginar o que teriam passado as pessoas logo após o furacão Katrina.

Ao ver isto lembrei-me de uma colega que já não vejo há uns anos. Certo dia ela foi passar umas férias, penso eu, à Polónia e lá tinha visitado os campos de concentração de Auschwitz. O professor perguntou-lhe o que é que ela tinha sentido ao visitar os campos, e ela disse que se sentiu culpada, por na altura nós (Portugal) não termos feito nada para ajudar a acabar com aquela situação.

A questão é que eu sempre tive uma ideia dessa minha colega como sendo uma pessoa que era capaz de tudo para ganhar, o que tendo em conta a área que estava a seguir nem era uma má qualidade (quando uma pessoa precisa de um advogado é para ganhar) e como tal sempre achei que ela seria uma excelente advogada, mas horrível enquanto pessoa. E hoje eu percebi que afinal ela é melhor pessoa do que eu. Enquanto que o pensamento dela foi o de querer ter impedido o sofrimento daquelas pessoas, eu quando olho para estes capítulos mais negros da história da humanidade, o primeiro pensamento que me vem à cabeça é, não o de evitar o sofrimento, mas o de causar dor aqueles que a impuseram aos outros.

É estranho, ter uma ideia formada sobre alguém, do quão horrível essa pessoa é, e depois olhar para trás e perceber que não sou em nada melhor que ela...